sexta-feira, 11 de julho de 2008

...Eu...


"Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.

Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.

Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.

Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz.

Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada.

Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais.

Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo.

Nem eu sou o que penso que eu sou. Nem nós o que a gente pensa que tem.

Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol.

Trabalho sem salário e não entendo de economizar. Nem de energia.

Esbanjo-me até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho.

Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços.

Não vou à missa. Nem faço simpatias. Mas, rezo pra algum anjo de plantão e mascaro minha fé no deus do otimismo.

Quando é impossível, debocho.

Quando é permitido, duvido.

Não bebo porque só me aceito sóbria, fumo pra enganar a ansiedade e não aposto em jogo de cartas marcadas.

Penso mais do que falo. E falo muito, nem sempre o que você quer saber.

Eu sei. Gosto de cara lavada — exceto por um traço preto no olhar — pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatuagem no lado esquerdo das costas.

Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.

Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez.

E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia.

Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.

Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos.

E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo."

[Martha Medeiros]
...
P.s.Faço valer de muitas palavras desse texto em minha própria vida...

7 comentários:

Negâ disse...

"E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia."
Tá parencendo ue foi quem escrevi esse texto...
Marvilhoso...lindo pots... agora acho que fico um bom tempo na blog esfera sem sumir.

Flor beijoss...
Lindo fim semnana :)

Unknown disse...

Adoro a Martha.
Ja li varios livros dela e continuo garimpando textos que se espalham pela net.
Obrigada pela sua visita. Volte mais vezes, viu?
É sempre um grande prazer receber novas visitas e fazer novos amigos.

Beijooo

meus instantes e momentos disse...

é sempre muito bom voltar aqui. Gosto do teu blog.
Maurizio

Vaninha® disse...

Comentando o seu PS:
Eu tmb...
Boa semana!!!!!

Lily disse...

acho que a martha medeiros fala por todas as mulheres do mundo, ou quase! rsrs

bjkssss

Talita Corrêa disse...

Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo.

Essa frase é a minha cara!

Bjs

.Ná. disse...

Adorei a poesia. Ela tem um quê de cada mulher em nós.
Bjos